CHANÇABLOG 2.0

Nova versão revista e melhorada

quinta-feira, março 20, 2008

Necessidade de Pensar

Encontrei este texto por acaso, perdido na Internet, num blog chamado "Vamos lixar tudo (Se ainda resta alguma coisa)".
Não consigo encontrar nenhuma relação directa do autor(ou autores) deste blog com a nossa terra. Penso que será uma coincidência de alguém que passa ou passou por lá.
Mas achei interessante esta pequena história, porque quando sinto necessidade de pensar lembro-me imediatamente da Chança.
O silêncio é propício a isso, assim como o calor, ou o aconchego do canto do lume, ou ainda os seus sabores.
Deixo então uma cópia deste episódio que se terá passado na Estação.

"Chegou à estação da Chança, no Alto Alentejo, com a antecedência do costume. Faltava ainda meia hora para a chegada do comboio. Era o único passageiro e por isso poderia depreender-se que não teria ninguém a quem perguntar e ninguém que lhe perguntasse o que quer que fosse. Mas na Chança, como em todas as pequenas aldeias do Alentejo, as pessoas vão para a estação, não para apanharem o comboio, mas para o verem passar e ficarem a saber de quem chega e de quem parte.
Sentados no banco, por debaixo do relógio da estação, que marcava 4 horas e 15 minutos, estavam sentados três homens, velhos, nos seus 70 e tal anos de vida e muita amargura no coração.
- Ó homem, sente-se aqui - disse o do meio.
- Obrigado, mas o comboio está já a chegar, e... -, replicou António, sem a mínima intenção de entrar em conversação com quem quer que fosse, sobre o que quer que fosse.
- Mas, vai ficar meia hora de pé, a olhar para os carris, amigo? - insistiu o da ponta direita.
- Desculpe, preciso de estar sozinho. O que vou fazer é um desafio enorme. Ainda o estou a tentar medir. A medir-lhe os prós e os contras. E, por isso, preciso de o fazer sozinho. Não me leve a mal, não se trata de má educação. Desculpem-me. Mas agradeço a atenção.
- Esteja à vontade então. Ó homem pense no que quiser sozinho, se é disso que precisa.
António esperou os trinta minutos de pé, a olhar em frente, até ter avistado a carruagem ao longe. Pegou na pequena mala, a sua única bagagem, e pôs-se muito direito, como se estivesse a assistir a um acto solene, à espera que o comboio parasse. Naqueles 30 minutos, António - aquele que não se quis sentar, que não quis conversar, porque tinha de pensar -, não pensou em nada."

Assina CC


1 Comentários:

Blogger RM disse...

E aí está de novo a estação das minhas memórias.Essa estação tinha, no interior, uma escadaria de madeira com um gradeamento de ferro forjado. A janela semi-aberta era a janela da cozinha, se não estou em erro.
Pois é.Já lá vão muitos anos.
Rosa Maria

12:31 da manhã  

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