CHANÇABLOG 2.0

Nova versão revista e melhorada

sexta-feira, julho 04, 2008

E, de repente, tudo acalmou

Nem tudo eram correrias nas noites de Verão.
Havia, também a acalmia.
O descanso do guerreiro ocorria, muitas vezes, no degrau da D. Lucília onde a "gaiatagem" se sentava a ouvir as pilhérias (para melhor entendedor - p´lérias) da sua ama.
Ana Preta, era assim como era conhecida, não que fosse esse o seu nome de nascimento, nem que fosse essa a cor da sua pele, era uma verdadeira contadora de histórias.
Lembro-me que os os miúdos largavam as suas correrias e ficavam horas a ouvir as suas histórias.
Ensinava-nos lengalengas como a "Sola, sapato, rei, rainha/ Foi ao mar pescar sardinha", etc... e muitas outras histórias de encantar.
Havia aquelas em que os personagens iam "correr mundo" (fosse isso o que fosse); muitas vezes aparecia uma velhinha ( e em surdina acrescentava: "e a velhinha era a Nossa Senhora") que solucionava os problemas causados pelo mau da história que invariavelmente era o Diabo; outras começavam com aviso "isto aconteceu no tempo em que os animais falavam..."
Durante muito tempo me questionei qual seria esse tempo, em que local ou se teria mesmo existido...
Só havia uma história que nunca a consegui ouvir acabar. Ria de tal modo que por muitas vezes que contasse a mesma história ou que a tentasse acabar, o desfecho era sempre o mesmo. Risos e mais risos. Tantos que durante muito tempo todos desconhecia o fim da dita história.
Muitos devem reconhece-la, mas já que falo nela aqui vai:

"Era uma vez uma mulher que passava os dias a chamar pela Morte.
- Sou tão infeliz que só a Morte me pode valer;
- Oh Morte! Vem-me buscar que eu não ando cá a fazer nada;
O seu marido já nem ligava a tais lamurias, até que um dia alguém bateu à porta.
- Quem será a estas horas? - perguntou a mulher algo irritada pela inconveniente visita.
- Vai lá abrir que pode ter acontecido alguma coisa - retorquiu o marido
- Quem é? - perguntou a mulher abrindo a porta e vendo um personagem
encarapuçado com uma gadanha na mão
- Eu sou a Morte - disse em tom solene - e venho-te buscar...
Ao que respondeu a mulher:
(E aqui começava a sessão de risos, que ia alastrando pelos ouvinte)
- A mim não! - disse a mulher - Vai ali ao mê home (mais risos que não
deixavam perseptiveis as palavras da narradora) que está debaixo dequela albarda!
(Esta última parte só a soube muito mais tarde, tendo para isso que perguntar a quem conhece-se a história)

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