CHANÇABLOG 2.0

Nova versão revista e melhorada

sábado, julho 26, 2008

ChançaPhotoBlog Janelas #2




Noites de Verão - Tudo mudou...

Tudo mudou em meados dos anos 80.
As portas fecharam-se, as noites passaram a ter menos gente na rua, a "vila" ficou às moscas...
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Grande acontecimento! Na Junta de Freguesia ia proceder-se ao sorteio das chaves do Bairro Novo. Grande acontecimento!
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E foi quase um êxodo. Aquelas crianças que corriam pela vila dia e noite, mudaram-se para o Bairro Novo. E as portas eram melhores. Tinham fechaduras. Ali já não se contavam histórias às portas nas noites de Verão. Já não se corria rua abaixo e rua acima. Os velhos ficaram, abandonados, na vila deserta...
E o centro da "noite" passou para o Rossio. É verdade que a idade já era outra. Exigia mais privacidade, priveligiava-se o escuro dos bancos do Rossio. As histórias também eram outras. Depois eram as futeboladas no ringue. O snooker na Junta. As mães das raparigas em guarda.
Eram outras noites. Também animadas.
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Mas as portas não voltaram a ficar abertas...

sexta-feira, julho 18, 2008

Chançafiles - Três anos depois...

Ontem aconteceu uma coisa incrível.
Passados mais de três anos tivemos um comentário a um dos primeiros post aqui publicados.
É engraçado que por vezes a memória prega-nos partidas (sobretudo quando são memórias de uma criança de 5 anos).
E quando conto histórias do "antigamente", ou então daquelas que eu "ouvi falar", tento sempre salvaguardar a "verdade" (se é que ela existe).
Mas por vezes é mais interessante manter uma boa história, que vai alimentar a imaginação das gerações vindouras, do que relatar a verdade "nua e crua" que retira ao acontecimento toda a magia.
É assim que nascem as lendas e somos nós os responsáveis por perpetuá-las.
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Neste caso concreto, passado 3 anos, alguém vem aqui dizer:
- Eu estive lá.
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O caso relatava um fenómeno estranho que terá acontecido no adro da igreja, no Verão de 75, onde terá aparecido do céu uma foice e um martelo a vermelho.
Eu tinha 5 anos na altura e a unica coisa que me recordo foi a agitação e uma correria até à igreja.
Quando lá cheguei, com a minha mãe, não vimos nada.
O resto foi o que se contou na altura.
É engraçado que até relatar esta história neste blog, acho que nunca a tinha comentado com ninguém, chegando até a pensar que seriam "partidas da memória".
Mas eis que surge um voz, uma testemunha, alguém esteve lá e viu.
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Como já passou muito tempo vamos recuperar o post original na integra com o comentário de ontem.

Chançafiles - Mitos rurais (republicação)



Todos temos memórias de infância. Aquelas memórias que o tempo vai apagando até se tornarem simples imagens, situadas entre a realidade e a ficção. Mas existem situações realmente extraordinárias que sendo ficção ou realidade merecem ser contadas. Por vezes esses factos são de tal maneira estranhos que se podem tornar autênticos mitos.
Estavamos no verão quente de 75. O Alentejo fervilhava de emoções. Qualquer pequena faísca podia atear um grande incendio. Eu estava em casa, já era noite. Subitamente ouviu-se um enorme burburinho. Algo estranho tinha acontecido no adro da igreja. Não tenho certezas de como se terão passado as acontecimentos, mas eu acho que me levaram a ver o fenómeno. Quando lá chegamos não vimo nada, assim como muitas outras pessoas que chegaram antes e depois de nós. Conta-se que do céu veio uma luz vermelha em forma de uma foice e de uma martelo, que terão iluminado aquela noite quente de verão. Para espanto geral essa luz terá sido projectada na parede da igreja.
- Era um cometa! - diziam uns.
- Era um OVNI! - respondiam outros.
O que aconteceu realmente naquela noite de verão não faço a mais pequena ideia. Mas muitas explicações surgiram de imediato.
- Aquilo era coisas dos Russos. - diziam uns com um certo orgulho.
- Coisas do Diabo! - diziam as beatas fazendo o sinal da cruz, tentado no entanto convencer alguém (ou a elas mesmas) de que aquilo poderia ser a Nossa Senhora, em que o martelo seria a cabeça e o traço da foice o manto que a cobria.
Apesar de muitos jurarem a pés juntos que viram sim senhor, e que era assim deste tamanho, exemplificando com gestos, e vinha daquele lado, e depois desapareceu na noite assim como apareceu, eu penso que na realidade ninguem terá visto coisa nenhum. Mas o mito ficou. Ainda hoje tento encontrar explicações mais ou menos plausíveis para o que terá acontecido naquela noite. Uma das explicações que me dá mais gozo imaginar é a ideia de que algum ser extraterrestre, dotado de uma inteligência e tecnologia superior, tenha atravessado o Universo para projectar uma foice e um martelo, vermelho na parede da Igreja Matriz de Chança, com o objectivo de convencer a população a votar no PCP; converter as beatas ao marxismo/leninismo; promover a URSS como potência mundial, para que os americanos não mandassem mais sondas para o espaço.



Publicado a 20/02/2005

Comentário de 17/07/2008

IMA disse...
A foice e o martelo (avermelhados) no céu...sim, eu estava lá nesse momento e também os vi. Um desenho bem elaborado, formado entre as poucas nuvens que havia,nessa ocasião. Foi em Junho de 1975 e no adro da Igreja estavam algumas pessoas, que, como eu olhavam para o céu admirando o fenómeno. Claro, surgiram de imediato comentários à moda da Chança.Eu sempre fiquei com a ideia e é a única explicação que me ocorre: o sol tinha acabado de se enconder atrás da linha do horizonte, havia bastante claridade, os raios solares incidiam nas poucas nuvens, dando-lhes um tom laranja/avermelhado,provocando a coincidência de uma imagem que nos era muito familiar na época, porque há muitas coincidências nanatureza; quantas vezes olhamos para coisas que nos fazem lembrar outras..


segunda-feira, julho 07, 2008

ChançaPhotoBlog - Janelas #1


sábado, julho 05, 2008

ChançaPhotoBlog

sexta-feira, julho 04, 2008

E, de repente, tudo acalmou

Nem tudo eram correrias nas noites de Verão.
Havia, também a acalmia.
O descanso do guerreiro ocorria, muitas vezes, no degrau da D. Lucília onde a "gaiatagem" se sentava a ouvir as pilhérias (para melhor entendedor - p´lérias) da sua ama.
Ana Preta, era assim como era conhecida, não que fosse esse o seu nome de nascimento, nem que fosse essa a cor da sua pele, era uma verdadeira contadora de histórias.
Lembro-me que os os miúdos largavam as suas correrias e ficavam horas a ouvir as suas histórias.
Ensinava-nos lengalengas como a "Sola, sapato, rei, rainha/ Foi ao mar pescar sardinha", etc... e muitas outras histórias de encantar.
Havia aquelas em que os personagens iam "correr mundo" (fosse isso o que fosse); muitas vezes aparecia uma velhinha ( e em surdina acrescentava: "e a velhinha era a Nossa Senhora") que solucionava os problemas causados pelo mau da história que invariavelmente era o Diabo; outras começavam com aviso "isto aconteceu no tempo em que os animais falavam..."
Durante muito tempo me questionei qual seria esse tempo, em que local ou se teria mesmo existido...
Só havia uma história que nunca a consegui ouvir acabar. Ria de tal modo que por muitas vezes que contasse a mesma história ou que a tentasse acabar, o desfecho era sempre o mesmo. Risos e mais risos. Tantos que durante muito tempo todos desconhecia o fim da dita história.
Muitos devem reconhece-la, mas já que falo nela aqui vai:

"Era uma vez uma mulher que passava os dias a chamar pela Morte.
- Sou tão infeliz que só a Morte me pode valer;
- Oh Morte! Vem-me buscar que eu não ando cá a fazer nada;
O seu marido já nem ligava a tais lamurias, até que um dia alguém bateu à porta.
- Quem será a estas horas? - perguntou a mulher algo irritada pela inconveniente visita.
- Vai lá abrir que pode ter acontecido alguma coisa - retorquiu o marido
- Quem é? - perguntou a mulher abrindo a porta e vendo um personagem
encarapuçado com uma gadanha na mão
- Eu sou a Morte - disse em tom solene - e venho-te buscar...
Ao que respondeu a mulher:
(E aqui começava a sessão de risos, que ia alastrando pelos ouvinte)
- A mim não! - disse a mulher - Vai ali ao mê home (mais risos que não
deixavam perseptiveis as palavras da narradora) que está debaixo dequela albarda!
(Esta última parte só a soube muito mais tarde, tendo para isso que perguntar a quem conhece-se a história)

Noites de Verão 2


As brincadeiras naquela altura eram simples e não necessitavam de muitos adereços.
A tecnologia era a nossa imaginação.
O simples jogo das escondidas mantinham uma "matilha" de cachopos entretidos todo o serão.
Os gritos de 1, 2, 3, "João", "o último salva todos" ou "arrebenta o jogo" ecoavam pelas ruas.
A apanhada, jogar à bola, o toca e foge, o mata, eram só alguns dos jogos que dispúnhamos para variar.
Mas a brincadeira por excelência dos rapazes da altura era "jogar aos Cowboys".
Aqui entrava um adereço imprescindível - a pistola.
Havia sempre alguns que tinham mais do que uma e dava sempre para todos.
Quando não havia, improvisava-se com um pau.
Por vezes aparecia algum com alguma arma mais evoluida.
O "Chico" tinha um pistola com "martelicas" que comprou na feira de S. João.
O "Jaquim" tinha uma estrela de Xerife, um "coldre" e até tinha umas esporas.
O "Manel" trouxe de Lisboa um máscara do Zorro, "mas com uma espada não se safa", "então tem aqui uma pistola e pode ser o mascarilha", "então eu sou o Tonto", "e eu sou o Bonanza", "e eu o Billy, The Kid".
Os tiros ecoavam na noite, que variavam entre os sons emitido por entre os dentes cerrados (acompanhado por uma chuva de salpicos cuspidos à velocidade de um tiro) e uma "nnneommm" que soava mais metálico e que forcava semelhanças com o ricochete das balas.
Depois, "tás morto", "não estou", "não me acertas-te", "acertei sim senhor", "assim não jogo", "este gajo é sempre a mesma coisa", "dá cá as pistolas que são minhas", "pronto, tá bem, mas p'rá próxima morres mesmo".
E continuava-mos serão fora, "mãos ao ar e armas para o chão", que era a ordem (pelo código de honra de quem jogavas aos Cowboys) pela qual nos tínhamos de render.

(Os nomes acima mencionados são imaginários)

quinta-feira, julho 03, 2008

Noites de Verão

Quando penso em noites de Verão lembro-me, invariavelmente, da Chança.
Mas não na Chança de agora.
Lembro-me doutra Chança que se desvaneceu no tempo, mas que a memória teima em reavivar.
Era a Chança das noites de Verão, das portas abertas, das velhas sentadas nos poiais (ou "piais" como por lá se dizia), dos cachopos em correrias doidas pelo serão fora.
O centro dessa "vida nocturna" era "a Vila".
Havia muitos cachopos "na vila", depois vinham os do "Rossio". Vinham até "dos Baldios".
Depois apareciam aqueles que vinham passar as férias grandes a casa dos avós.
Era um corrupio que só terminava quando as mães nos roubavam a uma brincadeira qualquer, que pela ausência força de um participante, punha, às vezes, fim a mais uma noite de suor e cansaço.
Mas no outro dia havia mais. E assim sucessivamente até ao fim do Verão.
Continua...

quarta-feira, julho 02, 2008

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terça-feira, julho 01, 2008

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